NADANDO CONTRA A MARÉ...
O ano novo iniciou-se e com ele, renovamos as esperanças de
dias melhores, de conquistas, vitórias e, sobretudo, de realização de nossos
sonhos.
Tivemos a oportunidade de passar o Reveillon na praia de
Mucuri/BA, na companhia do casal Fabinho/Célia. Tudo foi maravilhoso! Acontece
que, o mar sempre nos inspira desafios, aventuras e confrontos. Eis que, no dia
03.01.2015 (sábado), lindo dia de sol, mar calmo, praia extensa formando no
meio do mar uma linda ilha de areia. Eis que, para desfrutar dessa beleza logo
ao entrar na água, que estava morninha, fomos em direção aquela ilha de areia
para tirar algumas fotos. A Gi ficou morrendo de medo ao atravessar alguns
metros até ganhar aquela imensidão que se formara no mar. Com a minha ajuda, já
que ela não sabe nadar, tive quase que carregá-la, porém, ela chegou lá.
Tiramos algumas fotos e logo voltamos para nossa barraca, para desfrutarmos de várias
Skol geladinhas que nos esperavam. Tomei uma latinha e o Fabinho tomou outra.
Passamos o protetor solar e convidei o Fabinho para fazer uma caminhada em
direção ao local onde o rio encontra-se com o mar. Nesse ponto, iniciava-se a
ilha de areia no alto mar. Fomos de encontro ao salva vidas que lá estava e
perguntamos se tinha condições de atravessar. Ele nos respondeu que sim, desde
que soubéssemos nadar. Caímos na água, demos algumas braçadas e logo alcançamos
a parte que formava a bancada extensa de areia. Aí percorremos toda aquela
areia no sentido inverso, até chegar ao ponto que ficava bem em frente a nossa
barraca, onde estava a Gi e a Célia. Abanamos as mãos, fizemos gestos mostrando
que estávamos do outro lado, e elas nem sequer perceberam. Não paramos sequer
para descansar, crentes que aquela caminhadinha de pouco mais de um quilometro
e aquelas outras braçadas que demos ao atravessar a parte inicial, seria motivo
para nos preocupar em retomar a nossa travessia.
Do outro lado, nos aguardavam algumas Skol geladinhas. O
calor já era forte, o sol estava ardendo, e o salva vidas já tinha dado o
aviso: pessoal, vamos atravessar, pois a maré está subindo!
Sem nenhum planejamento, sem imaginar nenhum tipo de
dificuldade, sem observar os limites dos nossos corpos, eu e o Fabinho caímos
no mar para atravessar os poucos mais de 50 metros a nado e outros 50 metros
com pés na areia, até chegar à piscina que se formara logo em frente ao mar.
E aí começamos a viver o nosso sábado de aflição, o nosso
2015 de incertezas, o nosso inicio de ano novo cheio de alegrias e que estava
prestes a terminar em tragédia. O Fábio estava a minha frente, pois imaginei
que ele conhecia muito bem aquele mar e foi a única estratégia que tracei. Só
que, ao chegar à metade da travessia, percebi que não seria tarefa tão fácil
assim, ao tentar visualizar o Fabio a minha frente, percebi que ele também
olhava para trás com muita preocupação. O cansaço nos abateu em virtude das
inúmeras braçadas que dávamos para vencer os metros que nos separavam da terra
firme e vencer as ondas que se formavam. Nessa hora, vi que o Fabinho a minha
frente tentou nadar de cachorrinho e fiz o mesmo. Acontece que ainda faltavam
muitos metros e se ficasse nadando daquele jeito, o que poderia acontecer era a
correnteza nos levar para mais longe da praia. Nesse momento, já sem nenhum
rumo, veio uma pequena onda e com ela pude sentir o gosto amargo de um gole de
água salgada que quase me fez engasgar e fiquei muito mais desesperado. Vi que
a minha frente o Fabinho retomava o nado batendo forte com os braços e pernas.
Eu também fiz o mesmo e naquela aflição comecei a sentir a falta de forças, os
braços já doíam por demais, as pernas doíam e os ombros já estavam dando os
últimos sinais de resistência. Só me passava pela cabeça aquela hora, que não
poderia vir uma câimbra nas pernas, pois sem a força delas, certamente eu iria
afundar. Já tirando as últimas gotas de esforço físico do corpo dei mais
braçadas e olhei em frente e vi que o Fabinho tomou pé e conseguiu sentir a
areia com a água até o seu pescoço, ele nadou mais um pouquinho e conseguiu
ficar com a água até o peito, aí nesse momento ele estendeu o braço para que eu
pudesse segurar sua mão e ganhar a areia firme.
Nessa hora, o coração já quase saia pela boca, meus
batimentos cardíacos, certamente estavam em torno de 200 por minuto, parecia
que meu coração queria explodir, a fadiga era imensa, os braços estavam
contraídos de dor, as pernas duras e em estado de câimbras, e todo o meu corpo
sentia o cansaço daquela infindável aventura. Após tomarmos um pouco de ar, eu
e o Fabinho, ficamos alguns segundos ali na praia com á água sob domínio e falamos
da dificuldade e do medo que passamos. Seguimos em direção à barraca, onde
estava a Gi e a Célia, contamos a elas o ocorrido e elas sequer acreditaram que
tudo isto tinha acontecido e elas ali sem nada perceber. Eu deitei, estirei o
meu corpo até aliviar um pouco as dores e depois de alguns minutos, só me
restou lavar a boca com uma Skol geladíssima, para tirar aquele gosto ruim da
água do mar. Essa foi a Skol mais bendita que já apreciei em toda minha vida. Daí
pra frente, eu e o Fabinho, pra comemorar a continuidade do ano de 2015,
tomamos todas as cervejas que estavam geladamente, nos esperando.
A grande lição que fica é: seja prudente, nunca queira
desafiar os limites do seu corpo; planeje suas ações, pois, seus objetivos
serão alcançados se tudo estiver devidamente definido; ao assumir riscos, tenha
em mente que mesmo numa praia cheia de gente, você pode morrer sem que ninguém
perceba ou faça algo para te socorrer; respeite a natureza e saiba entender que
ela é sempre superior; o mar gosta de quem sabe nadar; morrer bebendo água doce
deve ser ruim, agora morrer bebendo água salgada, deve ser a pior aflição da
vida!
Fernando Novais
Janeiro/2015.
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